carta para alguém especial I

Não sei como começar a escrever esta carta para ti, sei que não a vais ler agora, mas mais tarde sei que irás abrir o baú das recordações e encontrar lá estas minhas palavras que pretendo escrever agora. Estou a ouvir Yiruma, sei que costumavas ouvir a meu lado quando nos encontrávamos na varanda sem hora marcada. Não me recordo de mais nada além dos nossos sorrisos e das conversas que duravam horas sem darmos conta, a noite já tinha entrado nos nossos corpos e o frio conseguia arrepiar a nossa pele e ainda assim ficávamos lá porque era o nosso lugar. Se o destino não tivesse posto as garras tudo estaria diferente agora, talvez não estivesse habituada a sair todos os Sábados até a madrugada cair sobre os meus ombros e o meu coração, talvez não teria explorado tanto o mundo a meu redor mas se não me habituasse a isso, sei que pelo menos teria o quente dos chás que fazias pela tarde e uma máquina fotográfica a nosso lado para fotografar o que quer que fosse, inventávamos histórias sobre as folhas de papel com as nossas canetas favoritas e ainda permanecíamos com a mesma harmonia de sempre, tal e qual como o som de um piano. O meu coração iria aquecer todas as noites, pois sabia que te perder nunca iria ser uma opção e nunca foi sabes? Mas os nossos caminhos seguiram outras vias e deixou de ser tão concreto os planos que tínhamos, as rotas planeadas e passou tudo a ser feito com a medida das nossas almas. Mudámos de pensamentos e mudámos de pessoas. Não me arrependo, conheci o outro lado. Já não confio demasiado mas existe uma coisa que continuo a intitular como satisfatório porque não tem outro nome: dou o demasiado de mim, e continuo a amar com lealdade. Já me tinhas dito em tempos de sol quente, que eu sabia gostar e sabia amar, no entanto o medo sempre foi um inimigo e o mais perto. Já não é assim, cresci. Quando desci pelas escadas quando nos despedíamos senti que estava na altura de abrir as asas e voar. Deixou de haver as conversas monótonas e as longas horas a beber chá e a apreciar o sol quente. Engraçado como pensar naquela tranquilidade me fez escrever uma carta simples, sem rodeios e sem ódios. Tenho saudades tuas e daquela varanda. Guardo sempre com carinho cada momento e cada imagem e até os abraços fortes. Não me arrependo, porque sei que mesmo que já não exista um pouco de nada, é uma memória bonita. Vivemos tudo com serenidade como as ondas do mar em dias sem vento. E é disso que me orgulho. 

Guarda esta carta com carinho. Continuo a fazer o chá de menta e continuo a aquecer-me ao sol. Um dia voltarei a escrever-te, sei que continuarás a retribuir com um sorriso e com o coração cheio, mesmo com a alma diferente tal como eu.