nas folhas em branco que me deixaste I

Sinto saudades, saudades essas que corroem por dentro. O meu coração bate fortemente como um leão esfomeado e neste momento só quero pensar em ti, sentado a meu lado no nosso piano nas manhãs mais frias, e esta é uma dessas manhãs frias em que costumavas aquecer o meu interior, com a força das notas da tua melodia. 
O meu espírito livre aumentava sempre que estavas do meu lado, deixava-me ainda mais forte. Não desistia e não me deixava ficar, costumavas ser o meu pilar mais seguro, seguro esse que agora se permanece em suspenso noutro lugar que não em mim.
A culpa nunca é de uma pessoa só em conjunto com o destino e carregado de mil estrelas apagadas, pode tudo acontecer. Nunca pedi que te fosses embora, tal como tu. Mas quando damos passos a mais, a queda é sempre a maior, existe sempre algum buraco pelo caminho ao qual pisamos sem olhar duas vezes.
O piano encontra-se com pó, esse tal pó que tapa todas as letras escritas com a tinta da tua caneta e com a perfeição desenhada graças à tua habilidade para tal.
Sabes quando prometemos que não iremos falar de alguém que por consequência do destino, que devemos ter esse nome no silêncio dos deuses e do coração?
Hoje decidi falar de ti. Podia ter falado numa hora qualquer, mas achei esta mais apropriada. Está uma manhã fria, as janelas escorrem água e o sol só me aquece quando estou centrada nele. 
Naquelas manhãs frias, o único sol que me aquecia eras tu. Neste momento fico-me pelas memórias e em vez de chorar recordo-as com carinho e escrevo nestas folhas lisas que me deixaste para preenche-las caso algum dia viesse a falar novamente de ti.