Gosto de dias bons, em que me olho ao espelho e me sinto pronta para um novo dia e a calma consegue entrar pela minha pele, percorrer pelas minhas veias e deixar uma imensidão de força. Não me sinto assim todos os dias, por isso considero tudo isto como uma extrema vitória. Onde ponho o meu batom vermelho, o meu eyeliner e visto um vestido bonito que só sai do armário quando me sinto com coragem para abandonar a minha rotina normal, e existir algo para além do furacão existente na minha alma que gera sensações em todos os cantos, todas as ruas sejam elas direitas ou esquerdas.

O cabelo liso e a alma livre como um pássaro, a sensação de que nada me preocupa, que nenhum pensamento entre pela porta entreaberta e faça das suas, porque na verdade consigo travar quando consigo e sinto-me com uma vitória entre mãos mas sem precisar de troféus. Ergo a cabeça, e desço as ruas do centro da cidade sem me preocupar se o vento irá cortar as ondas do meu coração e gere arrepios estranhos na minha pele. 

As pessoas interessam-me, gosto de observar, entrar pelos seus olhares e conseguir decifrar um ou dois enigmas em silêncio. O sabor do cigarro de baunilha e um chá a arrefecer no parapeito de alguma janela da rua direita, o aroma dos perfumes da perfumaria do outro lado da estrada e pessoas apressadas nas paragens de autocarro. Despi a rotina que invadia a minha mente e atravessei o pacífico com a teoria que os próximos minutos serão meus sem eu marcar numa agenda ou num calendário de parede.

Gosto de dias bons, por acontecerem num momento inesperado e sem ninguém dar conta. O medo fica apavorado e decide fechar-se nesses mesmos dias, em que é proibido andar com a cabeça para baixo a olhar para o relógio milhões de vezes até os ponteiros arderem nas doze badaladas.

Dias que surgem sem virem pelo correio, mas virem do coração e da alma. Quando esta expulsa as más energias, não existe quem a pare, e eu gosto.