hate/love

Já tive daqueles amores mesmo fortes por alguém que odiei à primeira. Todos os dias ele conseguia ser frio comigo e ao mesmo tempo carinhoso - e ainda assim eu negava tudo para mim mesma - continuava a tratá-lo como da primeira vez que nos cruzámos na rua, das primeiras palavras. Não lhe achei piada, deixei-me ficar pelo ódio e assim continuámos por muito tempo. Discutíamos todos os dias, não havia nenhum dia em que não sentíssemos necessidade de discutir um com o outro. Eu era implacável e não perdoava nenhuma vez de quando ele se armava em idiota - odiava o seu jeito de seduzir, metia-me raiva - nunca tinha papas na língua, sempre disse o que sentia mesmo que a raiva viesse ao de cima, até lhe gritava.
Passaram tempos e continuámos na mesma nostalgia e eu ? Nem gostava um bocado. Sentia-me fria e nem eu era assim. Ele notava que eu era sempre carinhosa com as outras pessoas, menos com ele e com isso ele atingia-me e feria-me uma e mais uma vez.
Passei nas horas de almoço a ir ter a casa dele com a sua irmã - infelizmente, ele tinha uma irmã demasiado querida super diferente dele - e pelo menos era isso que me agradava. Todos os almoços ele embirrava comigo e só queria discutir comigo - mesmo que estivesse no meu canto - odiava e por mais que quisesse, ficava quieta e não fazia nada. E ele insistia ainda mais, dando cabe da minha paciência - que com ele a gastava inteiramente numa hora - cheguei-me ao pé dele e bati-lhe com a maior força do mundo no peito e disse que o odiava - não evitei - de seguida fui-me embora e ele ainda com a sua estupidez foi atrás de mim, como se nada fosse. Espantei-o todas as vezes necessárias e ele fingiu ir embora e eu fiquei calma com a irmã dele, até que ele me surpreende por trás - idiota! - pensei eu de seguida. Fui-me embora e não quis aguentar mais aquele rapaz com a mania que era algo de especial.
De tantas vezes, o nosso amor/ódio conseguia ser maior, que uma vez ele atirou uma bola para cima de mim e de seguida olhei-o de relance e disse para me deixar em paz e nunca mais falar comigo. Vi-o a apanhar a bola e a dizer - estava só a pegar contigo - e depois foi embora com uma cara cabisbaixa e eu desatei a chorar desalmadamente enquanto me ia embora. A irmã dele ficou estupefacta e eu nem sabia o que dizer, nem o que sentir - ele fazia-me sentir tão sem sal, como uma pessoa com sentimentos por ele - era horrível sentir algo por alguém que desde sempre odiámos ou pelo menos era o que queríamos demonstrar. 
Fiquei de boca aberta, quando ele pouco tempo depois pediu-me desculpa e continuou a preocupar-se comigo - na realidade naquele momento, tudo tinha mudado - e eu ainda assim não quis acreditar que ele poderia ser tão bom rapaz, que fiquei de pé atrás. Tivemos de todos os momentos possíveis: daqueles em que não conseguia respirar pelo calor do seu corpo, e daqueles em que só me apetecia dizer que o odiava e que não o queria ver à minha frente - mas no final de contas, eu preocupava-me com ele - aquele jeito de ficar parado à minha frente e não me deixar passar, daqueles momentos em que sentia ciumes por eu falar com outro, sem ser ele, daquelas vezes em que se sentava e me perguntava se estava bem e daqueles momentos em que me dizia que adorava pegar comigo até sempre, que adorava rir comigo, daquelas vezes em que dançava uma música que adorava sem t-shirt só para me ouvir dizer - não me tentes impressionar - ou então - não sei - deixar-me confusa ainda mais do que todas as vezes em que os nossos olhares eram intensos.
Na realidade se calhar nem o odiava, só me fazia impressão.. a nossa relação era ódio em conjunto com amor, e na verdade foi bom. 
Acho que já maior parte das pessoas, teve um amor/ódio, em que a chama acendia cada vez mais em qualquer altura.